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31/10/2010

QORPO SANTO RESSUCITA!





QORPO SANTO

O maldito autor qorpo santo, autor de uma obra maldita e personagem de si mesmo. Nascido em algum dia de algum ano do século XIX, exerceu diversas profissões tais como professor, delegado e vereador; sujeito um tanto excêntrico que passava os dias a escrever: sobre política, gramática (propunha uma reforma ortográfica na língua da qual o maior exemplo é a grafia de seu nome), religião (donde o transcendente nome de qorpo santo que adotou – seu nome de batismo josé joaquim de sei lá o que campos leão), filosofia, economia, moral, poesia e teatro.

Talvez de tanto escrever tenha se esquecido de suas obrigações maritais de maneira que sua esposa mandou-o internar num hospício, diagnosticado de monomania (escrever o tempo inteiro), qorpo santo discordou, se rebelou, conseguiu ser transferido para o rio de janeiro para ter outra opinião médica (talvez menos preconceituosa pois lá era um completo desconhecido enquanto em porto alegre era tido como excêntrico) e no rio de janeiro os médicos o consideraram saudável e deram-no alta.
Apesar disso (ou principalmente porAQUILO) sua mulher o mandou internar novamente no RS (onde já se viu, quando se livrara do louco eis ele de volta! Já estava acostumada com a liberdade e tranquilidade que a viuvez temporária lhe concedera: “Esses médicos são umas belas bestas!” pensara a senhora campos leão). Ao contrário do que parece qorpo santo não viveu a vida toda em manicomios, apenas o tempo suficiente para ser consedirado para toda a ternidade como louco eterno.
Talve estivesse em jogo questões financeiras, interessses de alcova, que sei eu?, o fato é que o louco (e corno?) manso ao regressar a porto alegre (que em 18 e lá vai fumaça era uma cidade onde já se praticava o eterno reparar na vida alheia) sua vida não seria mais a mesma, morreu com a opinião geral de sua loucura e sua “OBRA” uma completa piada para o anedotário das gerações posteriores (NINGUÉM se prestou a ler sua “enciclopédia” e mesmo que o lesse nada mais encontraria senão motivos para confirmar sua fama de louco – alguns já nascem póstumos – vaticinou certa vez federico, mais um dos mortos em vida.
Em seus arroubos proféticos, qorpo santo dizia que só a cem anos seria compreendido – e continuava a escrever (agora sim é que havia motivos para apenas escrever). Na impossibilidade de ver seus livros publicados qorpo santo INVENTOU uma tipografia em sua casa na qual forjou dua ENCIQLOPÉDIA – OU SEIS MESES DE UMA ENFERMIDADE – escritos (ou psicografados) por qorpo santo – em 11 volumes, ou 13, sei lá e não importa... e assim foi...
- “daqui cem anos serei compreendido”, eis o vaticínio de qorpo santo

QUASE CEM ANOS DEPOIS
breve parenteses - nesses quase cem anos o que ao mundo aconteceu (o leitor poderá acrescentar itens a essa lista a vontade): fotografia cinema rádio televisão tantas guerras socialismo capitalismo foguetes aviões a morte de deus e o nascimento do futebol pílulas rock n roll eletricidade adolescentes pílulas anestesia sexo livre mais guerras vanguardas extermínios surrealismo o fim da vírgula o nascimento da sua sogra e o caralho a 4

quase cem anos depois um grupo de estudantes, artistas e intelectuais, que ouviram as histórias de seus avós sobre o folclore do louco alegrense e sabendo daquela quem ri por último é o que ri melhor (ou o que não entendeu a piada?, ou o que soltou o pum?,), transformaram o preconceito em curiosidade de poder ter em mão e almas tão maldita obra, o boato dizia que um velho professor – desses velhinhos devoradores de livros – havia em sua casa exemplares dessa enciqlopedia e sob o pretexto qualquer de dar uma mão ao professor – que poxa já era velhinho e um tanto ciumento de seus livros – um desses estudantes deu umjeito de entrar na biblioteca e surrupiar alguns exemplares e tirar um xerox (marca registrada) baratinho na facu e devolver ao bom velhinho – professor que nos seus bons tempos adorava espiar os joelhos das moçoilas – e chegaram a coclusão que seus antepassados não estavam totalmente errados mas em parte sim: dentre esses volumes que abarcavam diversos volumes tentando dar cabo de todo o conhecimento humano, dentre esses pirados e pretensiosos volumes – havia um dedicado ao teatro – e lá sua loucura e involuntário humor encontram o terreno certo para se transubstanciar.

e por que não? Esses jovens montam três daqueles textos curtos: eu sou vida eu não sou morte, mateus & mateusa e as relações naturais... em 1966 cem anos depois estreou a obra inédita de qorpo santo e cornfirmar seu vaticínio; agora não mais a obra de um louco e sim de um gênio – o homem a frente de seu tempo e qualquer outro cliche que queiras fazer, caro leitor.

REPERCUSSÃO
A montagem percorreu diversos festivais, apresentou-se em sampa e no rio; a crítica ficou espantada ao reconhecer na obra de QS um precursor de todas as vanguardas, do surrealismo, do teatro do absurdo; tudo isso são rótulos sem os quais um crítico não consegue gozar, esses mesmos críticos que consideram o início do absurdo do teatro a estreia em 1901 de ubu rei de jarry lá na ponte que partiu da frança, como podia alguém na província de porto alegre escrever 35 anos antes uma obra genuinamente mais absurda ousada e vanguardista que todos os demais ionescos besckets jarrys arrabais e outras bestas que tais.

Considero essa parte a mais besta, papo que só a crítico interessa (sob esse prisma o adultério da sra qorpo santo é mais interessante e paudurecente).

Qorpo santo me fascinou primeiro como personagem – que filme não daria sua vida?!! – mas sua obra (quando achei aquela edição perdida na biblioteca da escola) que conheci na adolescência, me fascinou desde o começo, uma fera carismática, lia e não entendia e na minha curiosidade adolescente mais me fascinava.

À primeira vista suas peças são ruins, mau escritas, confusas, enredo fraco; se a loucura acabou com sua vida fez um bem danado a sua eternidade; sua obra foi salva pela loucura, sem essa doideira santa seu teatro teria sido pior que o de machado de assis;

À segunda vista aquilo que parecia defeito transforma-se em urgência... há um autor no qual urge dizer algo, sua escrita é um exorcismo de demônios, escreve sem tempo para correção, sem se importar em aparar arestas (alguém que sabe que o texto é pre-texto); e o leitor acompanha a criação literária, mais que um leitor é testemunha, comédias que transformam-se em comédias, personagens que mudam de nome durante a peça, a tal da transmigração de almas, diálogos que são corrigidos nas rubricas, diálogos não, as personagens não dialogam, são mais como monólogos a dois;

Nas leituras seguintes o autor se revela a nós através de suas personagens, cada uma sendo uma espécie de faceta de sua personalidade, uma psique; a partir de então o autor transmigra de personagem em personagem, incorpora em seus leitores/atores/espectadores, na re-invenção do ator/autor de seus textos;
Suas peças lembram o woizeck de büchner, diz a lenda que o autor ao morrer deixou um conjunto de cenas sem ordem aparente, de maneira que cada encenador tem que “editar” o espetáculo à sua maneira;

(depois de anos lendo qorpo santo encontrei um método de leitura, lá vai a receita: após a meia noite, um copo de pinga, um cigarro de maconha, leio e chamo, reviva qorpo santo, gole, tragada, viva qorpo santo – e mediunicamente ele vai revelando – revelações)

O texto teatral é antes de tudo um pré-texto, um pretexto; qorpo santo obriga-nos a digeri-lo e ruminá-lo, re-arrumar suas falas, editar cenas, preencher os vácuos; intuição, vertigem, paranormalidade, loucura, um desafio em busca de nossos obscuros objetos de desejos.
(escrito de 2 para 3 de maio de 2010, das 1 às 2:30hs)

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